sábado, 3 de novembro de 2012

Em Busca do Santo Graal

Está escrito, em algum lugar, que o amor entre duas pessoas deveria ser tão natural e simples quanto respirar. Um processo que simplesmente é realizado do princípio ao fim por instinto, sem raciocinar.

Mas qual a lógica ou veracidade dessa filosofia se tudo mais na vida só tem valor real quando conquistado com esforço e trabalho? Talvez seja por essa sensação de dever cumprido após a batalha que Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas tenham tanto apreço pela história dos parceiros que trabalharam arduamente para concretizar seu amor. Talvez seja o oposto e Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas só tenham apreço pelos amores épicos porque as pessoas acreditam que, a não ser que se sacrifiquem até o limite das suas forças, autoestima e amor próprio, o sentimento advindo de outrem não tenha valor real.

Seja como for, a realidade é que, salvo excessões, o sentimento oferecido gratuitamente, sem luta, drama, lágrimas, sangue e suor não é valorizado, transformando a busca pelo verdadeiro amor em uma cruzada digna de comparação com aquelas travadas em busca do Santo Graal, lendário cálice utilizado por Jesus Cristo durante a Santa Ceia.

Entretanto, em suas cruzadas particulares, ninguém parece recordar que, após séculos de guerras sangrentas e explorações no Oriente, o Graal continua afastado dos olhos da humanidade em geral, perdido em alguma cripta a muito esquecida ou mantido trancado no cofre de algum colecionador que não tem o mínimo interesse em dividir o conhecimento que possui com seus semelhantes. Outro ponto importante, menos fantasioso e mais palpável, é que manter um relacionamento duradouro é, por si só, uma cruzada das mais difíceis.

Rotina, tentações e diferenças de gostos, crenças e personalidades apresentadas ao longo da convivência entre duas pessoas são obstáculos a serem superados, se não diariamente, constantemente. E nessa era de tecnologia, individualismo e imediatismo, em que é mais simples substituir a descobrir qual o problema e tentar consertá-lo, ter um relacionamento que dure anos é cada vez mais difícil. O que dizer de um que dure o suficiente para ser comparado com uma vida?! Pode ser equiparado a uma nova cruzada pelo Santo Graal, digna das realizadas durante a Idade Média e relatadas tão amplamente nas lendas.

Se é assim, por que não guardar o ímpeto heróico para a manutenção do relacionamento? Por que não valorizar um sentimento construído, baseado inicialmente em atração e interesse mútuos, que acontece naturalmente e não exige sacrifícios em prol da conquista de alguém que não demonstra sentir o mesmo? O prêmio com o qual o templário que vai empreende-la será contemplado parece mais justo e a jornada, tão árdua quanto a primeira.


domingo, 10 de junho de 2012


Eles assistiam ao show juntos e ela não parecia gostar muito da banda. Estava conversando absorta com a amiga deles e parecia distante aquela noite, não havia feito nenhuma das brincadeiras habituais entre os dois e nenhum dos gestos de carinho que, normalmente, lhe davam confiança.

Ele era tímido, fechado, mas com ela conseguia se abrir um pouco já que não tinha como ficar calado com toda aquela tagarelice e as constantes implicâncias que ela fazia só para vê-lo sorrir e implicar de volta, além disso, ela estava sempre sorrindo, algumas vezes de um jeito doce, outras de uma forma travessa.

Mas não essa noite e, mesmo querendo, ele não sabia como quebrar o gelo. Resolveu arriscar.

- Gosta da banda? - perguntou tocando a mão dela.
- De algumas músicas, mas em especial dessa... - ela respondeu, apertando os dedos dele quando ouviu os acordes da música seguinte soarem.

Ele sentiu a mão dela deslizar e quando olhou para baixo, viu os dedos dela se entralaçando nos seus, de uma forma tão típica dela. Voltou a erguer os olhos e percebeu que ela estava novamente com o rosto virado em direção ao palco, de olhos fechados, cantando os mesmos versos que o vocalista :

"...oh there she goes
same old game that never ends..."

Outro comportamento inesperado. Ficou observando o rosto dela, a entrega tranquila e sentindo a pressão da mão dela contra a sua. Naquele instante parecia que nada mais existia no mundo para ela.

Nos acordes finais, ela abriu aqueles lindos olhos negros, olhou para ele, dando-lhe o sorriso travesso que ele tão bem conhecia, aproximou sua boca da dele, cantando com o vocalista.

"...Finally"

Ela murmurou quando seus lábios se encontraram.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ela foi para a festa porque havia prometido. Porque não queria deixar a amiga no vácuo. De novo. Mas se sentia sozinha, com o coração despedaçado. Não queria mais sentir. Não queria mais sorrir. Só queria sumir.

Ele estava perto do bar. De cabeça baixa. Pensando, como sempre. Se perguntando, como já era comum. Por que aquilo tinha acontecido, afinal? Ele sofria. De novo. Parecia azar demais para um homem só. Era isso, então. Iria se fechar, decidiu. Por tempo indeterminado. Não. Ainda era pouco. Até a proxima encarnação talvez fosse suficiente.

Chegou na festa com a amiga quebrada. Ela que se esforçava para parecer 'normal'. A amiga pensava no que fazer para ajudar. Tinha o coração apertado por vê-la daquele jeito. Se perdeu dela e foi espera-la no bar. Lá perto, encontrou o amigo partido. Ele se esforçava para esconder a dor. Conversaria com ele enquanto esperava por ela.

Ela viu a amiga parada perto do bar. A amiga conversava com alguém. Ela ficou com remorso pela possibilidade de atrapalhar algo, mas queria ir embora. Não aguentava mais. O dia fora cansativo. Ela estava prestes a se render. A começar a chorar.

Ele escutava a amiga. Pensava em ir embora. Pensava que aquela festa já tinha dado o que tinha pra dar. Ele começava a ficar aborrecido pois a amiga não se deixava enganar. A amiga sabia o que ele sentia e pensava. Ele viu a amiga olhar para a frente e sorrir. Por reflexo, ele olhou na mesma direção.

Os olhos deles se encontraram. Eles sorriram. Se apresentaram. A amiga os conhecia bem demais. Sabia o que aquilo poderia significar. Salvação para ela. Esperança para ele. Resolveu sair de fininho. Não iria longe. Queria ver o que aconteceria.

Eles conversavam. Ela gostou do sorriso doce dele. Ele gostou dos olhos brilhantes dela. Teve empatia. Teve química. Ela ofereceu a oportunidade. Ele aproveitou. Eles se beijaram.

Ela abriu os olhos, olhou nos dele e disse:

- Obrigada.

Ele ficou intrigado. Não esperava ouvir aquilo. Perguntou:

- Pelo quê?

O sorriso dela alargou. Respondeu:

- Por mostrar que ainda existe luz em mim.

Ele sorriu. Entendia o sentimento. Afinal, mesmo que só por uma noite, as trevas dele também foram apagadas.