sábado, 30 de janeiro de 2010

"Do you feel it, Porto Alegre?"

Não lembro exatamente o dia, mês ou estação do ano. Lembro somente que tinha 14 anos e passava roupa assistindo ao programa TVZ do canal de TV a cabo Multishow. Levemente revoltada com a incumbência deixada por minha mãe, pensava na vida e problemas que podem fazer com que uma adolescente dessa idade desviar a atenção dos afazeres domésticos.

Foi com esse estado de espírito que ouvi os primeiros acordes de uma melodia doce e orquestrada. Ergui a cabeça a tempo de processar duas informações que estavam na tela: Nothing Else Maters executada por Metallica em conjunto com a Orquestra Sinfônica de São Francisco.

Desliguei o ferro, sentei no sofá e assisti completamente hipnotizada ao clipe. Nesse dia começou minha paixão por Metallica e pelo heavy metal.

Por muito tempo, esperei ansiosamente um show em Porto Alegre e só deixei de me importar com a vinda ou não da banda ao Brasil, e mais importante ao meu estado, quando ouvi Saint Anger pela primeira vez. Decepção. Delisusão. Indignação.

Como muitos outros fãs da banda, me senti traída, afinal, como meus ídolos puderam lançar aquilo? Não conseguia entender.

Dessa forma, minha adolescência se foi e com ela minha paixão e devoção pelos “Quatro Cavaleiros”, apesar de sempre ler quando saia alguma matéria sobre eles na web.

Foi assim, gostando sem gostar, que fiquei sabendo sobre o lançamento de Death Magnetic. Sem saber o que esperar, respirei fundo, me enchi de coragem e fui escutar o dito cujo, considerado por muitos fãs mais antigos a redenção dos caras. Em muito superior a Saint Anger, continuava inferior a Ride the Lightning, Master of Puppets, And Justice For All ou Metallica (vulgo The Black Album, meu preferido por sinal). Naquele dia tive a confirmação fatídica: dos meus tempos de fã, só restavam as lembranças e os antigos CDs.

Entretanto, ao ouvir a frase: “Metallica vem pra Porto Alegre em janeiro”, separei os R$ 140,00 do ingresso. Valor salgado? Sim, entretanto, após quase 10 anos, minhas preces haviam sido atendidas e eu devia esse show a mim mesma.

Claro que entre o dia da compra do ingresso e o do show, quase 2 meses se passaram e nesse período pensei em desistir várias vezes e vender o tal por um valor ainda mais salgado (querem o quê? Sou uma moça realista vivendo um mundo capitalista).

Mas antes que pudesse por meus planos em prática, o grande dia chegou. No trem, a caminho do Parque Condor, me perguntei se aquela era a coisa certa a se fazer.se não deveria negociar com algum cambista ou desesperado que estivesse de bobeira na bilheteria. Não conseguia recordar o que me fizera amar aquela banda tão intensamente. “Devem ter sido os hormônios da adolescência”, disse a mim mesma.

Ainda questionava o porque da minha presença no parque quando as luzes se apagaram, Ecstasy of Gold começou a tocar e mais de 27.000 pessoas começaram a gritar. Eu entre elas.

Creeping Death, For Whom the Bell Tolls, Ride the Lightning e Fade to Black foram as próximas. Quatro clássicos, as coisas iam bem, muito bem, diga-se de passagem. Não poderia esperar mais nada. Não me atrevia a esperar mais nada. Ou será que sim?

Sim, me atrevia.

Mas não o que veio a seguir. Fui surpreendida pelos tiros e explosões que marcam a entrada de One e ainda mais pelos fogos e labaredas que começaram em sincronia com a música. Fui ao delírio. Precisei admitir para mim mesma que James Hetfield e companhia sabem como conduzir um espetáculo.

The World Magnetic Tour já se tornara inesquecível, um verdadeiro marco na minha curta existência. Mas... faltava alguma coisa para ser o show perfeito.

Já sabia de antemão que a banda não tocaria The Unforvigen I, minha música preferida. Porém, tinha esperança que tocassem uma música. Aquela música que tornara a banda tão especial para mim.

Quando Kirk Hammet dedilhou uma balada, senti o que vinha a seguir. Eu sabia. Tinha certeza. E dessa vez, não fui decepcionada: os primeiros riffs de Nothing Else Matters foram tocados e fechei meus olhos, saboreando aquele momento, a melodia me atingindo e me arrepiando.

Enquanto abria os olhos, James Hetfield começou a cantar. A voz que embalara meus sonhos tantos anos antes. A noite finalmente estava perfeita e o que viesse seria lucro. Eu voltara no tempo 10 anos. A mágica fora feita e a paixão reacesa. Lembrei porque Metallica era minha banda preferida: simplesmente porque suas músicas tocavam minha alma e representavam muito do que eu sentia.

Por isso, quando Hetfield gritou “Do you feel it, Porto Alegre?” respondi a plenos pulmões “YEAH!”. Minha alma fora lavada, a noite do dia 28/01/10 foi, até então, a melhor noite da minha vida e The World Magnetic, o melhor show.

Não espero que todos concordem com o que escrevi acima, mas foi isso o que senti, pensei e recordei ao longo das 6 horas que permaneci no Parque Condor e creio que todos já tiveram um momento no qual vão pensar sempre com carinho.