segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Noite e Neblina

Texto escrito em 27/08/09, mas só postado hoje porque a autora é relapsa =)


Existem palavras que lutam para serem lidas. A mente de quem as escreve não descansa enquanto elas não são expostas, mesmo que acabem por se tornar apenas um fraco eco da realidade ou que seu significado represente somente superficialmente o teor da imaginação do escritor.

Aprendi isso nessa terça-feira, no segundo período da aula de Teorias da Publicidade (disciplina com duas características bastante interessantes: a primeira é ser ministrada por duas professoras – Paula Jung e Adriana Kurtz – e a segunda é que a aula da professora Kurtz, na realidade, é sobre cinema).

Como sempre, entrei na sala de lépida e faceira, escolhi um lugar próximo à janela, saquei meu exemplar de “Harry Potter e a Câmara Secreta” da mochila e comecei a ler. Estava nessa função quando a professora Adriana entrou na sala e iniciou a aula.

Após discursar um pouco sobre filmes ficcionais e não-ficcionais, ela mostrou para a turma a capa do DVD “Noite e Neblina” de Alain Resnais, documentário lançado em 1955 em comemoração ao segundo aniversário da libertação dos campos de concentração.

Com cenas rodadas no campo de Auschwitz, “Noite e Neblina” foi escrito por Jean Cayrol, sobrevivente de Orianemburgo, outra dessas filiais do inferno na Terra. Quando a professora falou isso e uma ou duas outras curiosidades básicas a respeito do filme, comecei a pensar apavorada “Onde é que eu fui estacionar meu patinete? Sabia que devia ter ido pra casa”.

Quem me conhece sabe que sou super sensível a filmes que retratem o sofrimento e a crueldade humanos. Sendo assim, foi com o coração na mão que resolvi encarar esse tour por Auschwitz. O bom senso? Perdeu de lavada a briga contra a curiosidade.

Cerca de meia hora e uns dois traumas depois, o parágrafo inicial desse texto começou a se formar na minha cabeça. Tudo estava muito confuso devido ao choque pós “Noite e Neblina”. Palavras misturavam-se as imagens de corpos que faziam crianças subnutridas da África do Sul parecerem obesas.

Obviamente não resisti ao impulso. Peguei minha agenda na mochila e comecei a escrever as primeiras linhas desse “desabafo”. Naquele instante, a única certeza que eu tinha é que precisava expressar, mesmo que de forma vaga e superficial, o que havia sentido enquanto olhava hipnotizada para o telão.

Relembrando agora essas sensações nada agradáveis, me pergunto o que não sentiram soldados e agentes humanitários quando chegaram aos portões dos campos nazistas e viram pessoas que foram privadas de sua dignidade, orgulho e humanidade, sendo reduzidas, após inúmeras e impensáveis formas de tortura física e psicológica, a caricaturas macabras do que foram outrora, quando a guerra, Hitler e Auschwitz não as haviam afastado de seus familiares e amigos.

Hoje, dois dias depois, algumas daquelas imagens ainda estão vívidas na minha memória e não é sem pesar que constato a veracidade por trás de uma frase proferida pela professora Adriana nessa fatídica terça-feira: não importa o tamanho ou a crueldade da tragédia, o cinema tem a capacidade transformá-la em algo belo.

Sim, porque a fotografia de “Noite e Neblina” (nas cenas filmadas pelo diretor e não adquiridas através dos arquivos da época) é linda, o texto é impecável, sincero e denso como pede o tema abordado no documentário, e a trilha é impressionante. Filme obrigatório para quem se interessa pelo holocausto ou quer ter uma percepção realista do tema.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Considerações sobre o tempo

Não sei se vocês já notaram como nossa percepção da passagem do tempo é relativa. Em alguns momentos, minutos tornam-se horas e horas parecem dias, já em outros, quando a noite começa ou termina, só nos resta a pergunta: “Que fim levou meu dia?”.

Essa crônica começou a se formar na minha mente há alguns dias, quando fazia compras com uma amiga. Enquanto esperávamos pela minha vez de ser atendida pela moça do caixa e fofocávamos a respeito da vida alheia, protagonizamos o seguinte diálogo:

- Tá, mas há quanto tempo vocês estão ficando? – me perguntou Marina.
- Hmmmm... Um mês e meio. Dia 13 completa dois meses. – respondi prontamente – Espera aí. Hoje é dia 10! “Jisuiz”, daqui 3 dias fazem dois meses!
- Não, Fê, hoje é dia 11.
- Putz! – exclamei surpresa – Como passou rápido!
- Sério? Estranho, tinha a impressão que vocês estão juntos há mais tempo.

A caminho de casa, comecei a divagar sobre como duas pessoas tão próximas e em alguns pontos tão parecidas quanto Marina e eu percebemos de forma distinta a passagem desse período. Pareceu mais rápido para mim por que estou diretamente envolvida enquanto ela apenas assiste de camarote o desenrolar da confusão?

Foi frustrante entrar no meu apartamento sem chegar a uma conclusão. E mais frustrante ainda observar a situação oposta quando, no dia seguinte, tentei escrever esse texto.

A tarde se arrastava. Eu havia acabado de ler “Quando Nietzsche Chorou” (LEIAM, é sério!) e ainda faltavam mais de vinte minutos para a master que eu estava gravando ficar pronta. Ou seja, só me restava escrever.

Infelizmente (pra mim) as palavras não saiam. O raciocínio não se formava e os minutos transcorriam lentamente.

Após o que pareceu horas, meus vinte minutos se esgotaram, desisti da idéia de escrever sobre o tempo e engavetei a idéia, já que pelo visto não era a hora de expressá-la em palavras.

Hoje, quase uma semana depois, quando resolvi escrever sobre minha recente incursão pela cena rocker de Porto Alegre através do show da banda de hard rock Rosa Tattooada, as considerações sobre a percepção temporal brotaram de forma razoavelmente lógica! Fazer o quê? Escrever, finalmente.

Minhas impressões sobre o show do Rosa? Ficam para daqui alguns dias, quando for escrever sobre outro acontecimento ou pensamento aleatório, afinal, parece que as idéias têm uma noção própria e bastante diferente da nossa a respeito da passagem do tempo.