domingo, 28 de fevereiro de 2010

Prólogo

Ela tinha 8 ou 9 anos e corria pela floresta em direção ao castelo. Não conseguia entender como esquecera que aquele era o dia marcado para o retorno dele. Eles haviam sido inseparáveis até aquele outono quando o príncipe, 3 anos mais velho, fora enviado a terras distantes para que pudesse aprender a ler, escrever, matemática e adquirir outros conhecimentos que o rei julgava necessários a seu filho do meio, futuro conselheiro do primogênito real, o qual subiria ao trono após a morte do rei.

Cada metro que a pequena condessa corria, deixava-a mais próxima do palácio e de seu melhor amigo, seu único amigo. As meninas da corte de quem ela gostava ou eram mais velhas ou mais novas e as que tinham sua idade eram frescas demais, passando o dia a bordar ao lado das mães que sabiam apenas fofocar a respeito da vida na corte. Não é que a jovem condessa não se interessasse por pintar e bordar ou não gostasse de música e leituras. Não, o que acontecia é que sendo órfã de mãe, fora criada pelo pai, o irmão e uma velha dama de companhia. A pobre dama, muito querida pela menina, já era idosa e não conseguia controlá-la. O pai e o irmão a adoravam tanto que lhes era custoso se negar a lhe ensinar a pescar, subir em árvores ou lutar como um cavaleiro.

A lembrança do pai a alarmou. Ele deveria estar furioso pelo sumiço dela e ficaria ainda mais quando visse seu estado. Essa perspectiva quase a fez retroceder, mas a saudade de seu amigo falou mais alto e a menina atravessou a ponte para entrar no castelo e os gritos foram ouvidos.

- Onde você estava?! O que aconteceu com seu vestido?! Como ousas se apresentar perante o rei e o príncipe recém chegado nesse estado?! – presumivelmente os gritos eram de seu pai que estava realmente furioso.

A pequena condessa seu encolheu, mas um garoto franzino e de olhos cinzentos saiu da multidão que o cercava, saiu correndo da multidão, passou pelo conde e a abraçou, fazendo com que a corte a encarasse chocada e os soberanos rissem.

- Creio que meu filho não se importa com isso, velho amigo, e para ser sincero, nós também não. São coisas da idade e logo a pequena se tornará um bela moça e sentirás falta desses momentos – respondeu a rainha.
- Senti sua falta – falou o príncipe.
- E eu a sua. Esse lugar fica muito sem graça sem você por perto – respondeu a pequena condessa.

Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip.

O barulho insistente do despertador não pertencia aquele local. Muito a contragosto, Emily abriu os olhos sentindo uma dor inexplicável no peito, como se acabasse de perder um dos melhores momentos de sua vida. “Foi um sonho”, ela pensou sentada na cama, “Só um sonho”. Sem saber exatamente porque, Emily começou a chorar.