Está escrito, em algum lugar, que o amor entre duas pessoas deveria ser tão natural e simples quanto respirar. Um processo que simplesmente é realizado do princípio ao fim por instinto, sem raciocinar.
Mas qual a lógica ou veracidade dessa filosofia se tudo mais na vida só tem valor real quando conquistado com esforço e trabalho? Talvez seja por essa sensação de dever cumprido após a batalha que Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas tenham tanto apreço pela história dos parceiros que trabalharam arduamente para concretizar seu amor. Talvez seja o oposto e Hollywood, novelistas, redatores, autores e roteiristas só tenham apreço pelos amores épicos porque as pessoas acreditam que, a não ser que se sacrifiquem até o limite das suas forças, autoestima e amor próprio, o sentimento advindo de outrem não tenha valor real.
Seja como for, a realidade é que, salvo excessões, o sentimento oferecido gratuitamente, sem luta, drama, lágrimas, sangue e suor não é valorizado, transformando a busca pelo verdadeiro amor em uma cruzada digna de comparação com aquelas travadas em busca do Santo Graal, lendário cálice utilizado por Jesus Cristo durante a Santa Ceia.
Entretanto, em suas cruzadas particulares, ninguém parece recordar que, após séculos de guerras sangrentas e explorações no Oriente, o Graal continua afastado dos olhos da humanidade em geral, perdido em alguma cripta a muito esquecida ou mantido trancado no cofre de algum colecionador que não tem o mínimo interesse em dividir o conhecimento que possui com seus semelhantes. Outro ponto importante, menos fantasioso e mais palpável, é que manter um relacionamento duradouro é, por si só, uma cruzada das mais difíceis.
Rotina, tentações e diferenças de gostos, crenças e personalidades apresentadas ao longo da convivência entre duas pessoas são obstáculos a serem superados, se não diariamente, constantemente. E nessa era de tecnologia, individualismo e imediatismo, em que é mais simples substituir a descobrir qual o problema e tentar consertá-lo, ter um relacionamento que dure anos é cada vez mais difícil. O que dizer de um que dure o suficiente para ser comparado com uma vida?! Pode ser equiparado a uma nova cruzada pelo Santo Graal, digna das realizadas durante a Idade Média e relatadas tão amplamente nas lendas.
Se é assim, por que não guardar o ímpeto heróico para a manutenção do relacionamento? Por que não valorizar um sentimento construído, baseado inicialmente em atração e interesse mútuos, que acontece naturalmente e não exige sacrifícios em prol da conquista de alguém que não demonstra sentir o mesmo? O prêmio com o qual o templário que vai empreende-la será contemplado parece mais justo e a jornada, tão árdua quanto a primeira.